Os heterônimos de Fernando Pessoa
Foto © Ilkhi, 2015
Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memoria na alma,
Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,
Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.
Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?
Que louros que nã fanem
Nos arbítrios de Minos?
Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra.
Que serás cuando fores
Na noite e ao fim da
estrada?
Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.
Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.
(heterônimo) Ricardo Reis
19 de Junho de 1914
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